Gamer CLT e outros tipos de gamer

Mais um meio-dia de quinta-feira chega e, com ele, mais um jogo gratuito para resgatar na Epic Games. Já são mais de 100 títulos dessa loja que estão salvos na minha conta e muitos deles são muito pesados para eu conseguir rodar no meu PC.

Nioh, The Outer Worlds, Tomb Raider (2013), Vampyr, A Plague Tale: Innocence e alguns outros o velho guerreiro aqui até abre, mas "funcionar" é uma palavra muito forte pra falar o que acontece na máquina.

O nome da figura de linguagem empregada é hipérbole.

Em 2020, meu antigo notebook queimou e eu realizei um velho sonho: comprei um desktop. Na pressa, porque eu precisava dele pra trabalhar e não tinha muita grana, fui obrigado a pegar um utilitário parcelado no cartão e agora, um pouco mais de 5 anos depois, estou tentando atualizar o bichinho.

Mas é complicado: para ter a base de um bom desempenho, tem que comprar uma fonte decente, as placas de vídeo estão custando um rim e eu ainda vi vários vídeos onde a galera literalmente queimou uma placa mãe igual a minha usando processador de mil reais, que nem é top de linha.

Basicamente precisa trocar tudo! Só vai sobrar o SSD e, talvez, o gabinete. Pra não ter que passar por isso de novo em pouco tempo, vai sair muito caro e eu vou ter que ir comprando peça por peça, bem devagar.

Toda essa experiência me fez pensar que, como estamos no Brasil, chega a ser até estranho falar em escolher a plataforma que vamos jogar. Normalmente, nosso acesso à tecnologia está limitado ao que conseguimos, em relação ao tamanho e quantidade de parcelas que vamos pagar mesmo, ou ao que nos é dado.

Pegando meu próprio exemplo: desde 1992 sempre teve um console na casa dos meus pais, mas 3 dos 4 que passaram por lá foram comprados usados. E, fora isso, eu não morava com eles nos últimos 2, PlayStation 2 e Wii, então só meus dois irmãos menores aproveitaram.

Juntando tudo isso, falar de "qual plataforma é a melhor para você comprar" me parece meio fora da realidade.

Eu acho muito mais legal a gente olhar pra coisas, usar o paradigma Jack, o estripador e dividir tudo afim de entender melhor o que e porque cada uma de suas partes acontece, fazer piadas sem graça sobre isso e criar jeitos de conseguir jogar um pouco mais.

Enfim, tudo que aparece neste texto é com base no que aconteceu comigo e com amigos. Se foi diferente com você, escreve pra mim, conta como foi.


Gamer de um único jogo

Fifeiro, GTAzeiro, CoDeiro, LoLzeiro, Magiqueiro ou qualquer outro eiro que existir por aí. Estes são os caras que jogam um único jogo, na maioria das vezes online.

Também já fui jogador de um único jogo, mas felizmente por pouco tempo: tive minhas fases de DOTA, League of Legends, Fallout, Skyrim e Magic: Arena.

Por sorte cada uma dessas fases foi bem espaçada da outra. Mas é sempre a mesma rotina. Parece até vício em drogas.

No começo é bom, é divertido e jogar depois do trabalho ou dos estudos é uma recompensa merecida. Mas um tempo passa e o seu único jogo se torna uma busca incessante pela endorfina de mais um abate, pelo prazer de mais uma vitória, que até acontece, mas vai te deixando cada vez mais insensível ao prazer.

Depois de um tempo, você só abre o jogo fique lá, anestesiado, por hábito como se fosse sua obrigação. Seu corpo está jogando, mas sua mente não está mais lá.

Não existe mais prazer nem diversão, somente os comandos mecânicos, sem alma, gritando pelo efeito da endorfina que já não acontece faz tempo, e o estresse.


Gamer com o computador de trabalho
Seria esse o Gamer CLT de verdade?


A potência dos computadores chegou a um ponto que modelos antigos, com mais de 10 anos, são o suficiente para o uso básico: pacote office, edição leve de imagens, navegação por redes sociais, assistir a vídeos no YouTube e ouvir músicas. Com isso, agora é razoável e possível para essas máquinas mais antigas realizar a maioria dos trabalhos no âmbito profissional.

Caso o modelo usado seja muito lento, basta trocar o HD por um SSD e o PC ganha mais uns cinco anos de vida útil para o básico.

Muita gente tem uma máquina assim e comprar uma melhor ou atualizar não faz sentido, seja financeiramente ou no sentido prático mesmo.

Tudo o que eu escrevi aqui é a realidade pra muita gente. Só que pra pessoa que quer jogar, infelizmente, máquinas assim não conseguem rodar títulos pesados lançados nos últimos 10 anos.

Se você se enquadra neste perfil, resta correr atrás dos indies, de títulos antigos ou partir para a emulação de consoles que vão até as gerações do PlayStation 2 ou do PlayStation 3. Essa fatia dos games exige menos desempenho do seu hardware e tem muita coisa boa pra se aproveitar.

Não que isso seja ruim, mas a gente fica um pouco fora da conversa: enquanto os canais de games se dedicam principalmente aos lançamentos, a gente acaba focando nos clássicos. 

Nos últimos anos, no entanto, foi criada uma possibilidade para driblar as limitações do hardware: streaming de jogos, como o Xbox Cloud Gaming. Com 60 reais por mês (em julho de 2025), você consegue jogar todo o catálogo do Game Pass em qualquer lugar, por exemplo. Está surgindo concorrência nesse segmento, como o Boosteroid e o Amazon Luna, então é bom ficar de olho.

Sinceramente, eu não gosto de jogar por Streaming, mas colegas meus já me mostraram jogos de Xbox Series rodando no celular e eles adoraram. Fico feliz por quem gosta.

Consolista desatualizado

Da implementação do Plano Real até o meio da década de 2010, passamos por um período onde a economia do Brasil estava muito boa e as famílias tiveram um crescimento absurdo no consumo. Foi neste período que muitas pessoas conseguiram adquirir seus consoles da geração vigente e continuam com eles até agora.

PlayStation 3, Xbox 360, PlayStation 4, Xbox One ou Nintendo Switch original: sem problemas! Esses consoles são ótimos e têm bibliotecas extensas cheias de títulos de peso que podem manter qualquer um entretido por anos, mesmo que você faça questão de não jogar o mesmo título duas vezes.

Eu, com meu PlayStation 4 Slim, me enquadro nessa categoria e não estou pronto para mudar para mudar de geração. Não vale a pena financeiramente, porque a nova geração é muito cara sem ter um ganho razoável de desempenho, nem na prática, por causa da minha backlog, a extensa lista de 6 ou 7 jogos originais que eu peguei em alguma promoção e ainda não joguei.

Tendo um console que não é de última geração, a única dúvida de verdade que existe é se a gente deve ou não desbloquear a máquina.


O gamer retrô da experiência original
ou como eu falhei em ser um gamer retrô pela segunda fez

Minha mãe está limpando a casa de tudo que era dos filhos e quer mudar para um lugar menor. Casado e com 39 anos eu acho que ela até demorou pra fazer isso. Uma das consequências deste processo é que o Mega Drive, comprado usado de uma locadora em 1992, acabou ficando comigo.

Junto com ele tinha os fios, a tomada, dois controles de 6 botões e 14 cartuchos. Dessas fitas, Quackshot e Streets of Rage, que eu tinha certeza que eram originais, não estavam lá. Acho que meus irmãos emprestaram pra alguém que não devolveu ou trocaram por outros jogos que interessava mais pra eles na época.

Um dos controles estava sem o botão C, a maioria dos cartuchos provavelmente era pirata e o botão de ligar e desligar estava emperrado. Fora isso, que eu saiba, esse console estava guardado sem ser ligado desde 2002, quando meus pais compraram um PlayStation 1.

Então, pra eu conseguir jogar Mega Drive tendo a experiência original, precisava mandar arrumar, reorganizar a sala, ir atrás de outros jogos e talvez até de uma televisão de tubo.

Somando o trabalho e os gastos que eu teria pra poder jogar o velho meguinha cheguei à conclusão que, pra mim, não valia a pena. Na minha vida, hoje, não dá para acomodar nem a grana necessária, nem tudo que precisa ser feito para jogar um console dos anos 1990.

Avaliando a situação, acabei passando essa bomba pra outro.

Console retrô não vale a pena pra mim. Agora, se você quiser fazer isso, quem sou eu pra te julgar? Cada um se diverte do jeito que quiser, desde que não cometa nenhum crime, não é mesmo?

O gamer retrô de emuladores
ou a primeira vez que eu falhei em ser um gamer retrô

Empresas chinesas estão fazendo consoles portáteis para todos os gostos e bolsos, muitos deles literalmente sem marca e todos voltados para a emulação.

Atrás de um portátil baratinho, eu acabei esbarrando com o R36S, que consegue rodar tranquilamente, tudo que foi lançado até o PlayStation 1 e foi um achado. Cheguei até a fechar alguns jogos nele: Sonic, Streets of Rage, Metroid 2 e Zero Mission.

Joguei outros títulos também, principalmente de Play 1, mas o que eu gastei mais tempo fazendo foi escolher os melhores jogos de cada plataforma e explorando o Port Master.

Sério, gastei muito mais tempo não jogando. De longe.

Primeiro eu fui atrás de toda e qualquer coisa que eu tinha jogado na minha infância e adolescência. Depois eu vi listas e mais listas de melhores jogos de cada console e fui testando e colocando no cartão SD. Aí eu fiquei uns meses sem mexer no R36S, meu foco foi pra outras coisas como substituir o Windows 10 no meu PC de trabalho por alguma versão do Linux, fazer a revista do blog, jogar no PlayStation 4 e dar atenção pra casa e pra esposa. Coisas da vida.

Deu vontade de brincar com o R36S de novo e eu peguei ele, descobri as maravilhas do Port Master, programa que roda jogos de PC nesse maravilhoso console de emulação. Então eu passei alguns dias tentando fazer jogos que eu tenho nas minhas bibliotecas digitais funcionarem no meu portátil.

Algumas vezes eu gastei minhas horas de lazer por dias pra tentar fazer um jogo funcionar. Tive sucesso mais vezes que fracassei, mas a consciência sempre pesava, porque parecia que eu não estava usando aquele videogame do jeito certo: eu gastei um tempo enorme, mas eu não estava jogando nada. Algo de errado parecia não estar certo.

Depois de um tempo, eu entendi.

Gamer retrô

Os gamers retrô são uma galerinha barulhenta e da pesada. A maioria brinca com seus jogos quieto, sem julgar ninguém, se diverte e é feliz. Mas porque focar essa análise nessas pessoas se é muito mais importante falar da minoria barulhenta que apavora a internet?

A multidão de gamers retrô está sempre brigando entre si por qualquer motivo sem sentido como, por exemplo, se é melhor jogar num console antigo ou em emuladores, se você tem que jogar tudo que tem ou qual é o melhor briga de rua, beat'em up, de todos os tempos.

Minha posição é que cada um jogue onde quer, consegue e/ou pode. Fora isso, Streets of Rage.

Eu posso estar errado, mas este definitivamente não é ponto do texto. Eu descobri qual é a principal característica de todo gamer retrô: ter uma montanha de jogos antigos e não jogar nada ou jogar pouca coisa.

Antes que venham me atacar, isso não é uma crítica, mas uma constatação dentro da qual eu também me enquadro.

Eu gastei tempo procurando quais jogos seriam legais de ter em cada plataforma, gastei tempo fazendo vários jogos funcionarem no Port Master e gastei tempo pesquisando quanto iria custar pra arrumar o Mega Drive velho e se valia a pena colocar ele pra funcionar na minha sala.

Todo esse tempo não foi perdido, foi gasto com coisas que eu gostei muito. Valeu a pena.

Só que agora eu estou com mais de mil jogos no consolinho, eu voltei a focar no PlayStation 4, que tem muita coisa pra eu aproveitar ainda. Em julho eu platinei God of War: Ragnarök e já peguei mais joguinhos.

Bom, voltando ao gamer retrô: a pessoa que tem uma montanha de títulos, mas só consegue jogar um de cada vez, quando joga.

Porque às vezes nem é o que vai te distrair, fazer você se divertir e relaxar dos problemas da vida. Às vezes é escrever um texto, mexer com as configurações, procurar o que vai jogar no futuro, organizar sua coleção ou qualquer outra coisa. E isso, quando a vida adulta permitir.

É o fim...

E você, que tipo de gamer você é ou já foi?

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