Immortals Fenyx Rising - Review/Análise

Já fazia uma bom tempo que eu não jogava ou tentava, sem sucesso, jogar um título da Ubisoft. Pelo menos 14 anos. Immortals Fenyx Rising é um jogo razoável, então, talvez, eu devesse ter dado uma chance para algum jogo desta empresa um pouco antes.

Então, por causa de todo esse tempo que eu passei longe da maior desenvolvedora de games da França, é muito provável que muitos dos problemas que eu liste aqui não sejam do jogo em si, mas da filosofia de design da Ubisoft.

Caso seja só a nota e o veredito tudo que importa pra você, então aqui vai: Fenyx Rising é um jogo razoável, bom até. Com certeza ele não merece menos que três estrelas.


Ele tem uma série de probleminhas que vão deixando a experiência com um gosto estranho. A história é bem humorada e é gostoso de jogar, mas tem tantas técnicas pra tentar te segurar jogando, pra fazer o jogador ficar na frente da tela o máximo possível, que ele parece aquela tarde que você perdeu rolando o feed de uma rede social.


Pronto! Achei o meu veredito: é legal, mas você fica pensando o tempo todo que deveria estar fazendo outra coisa. No meu caso, jogando alguma coisa melhor. Só que eu gastei o dinheiro com esse jogo e não vou conseguir comprar outro tão cedo.

Agora que eu já dei o que as crianças queriam, elas podem ficar por aqui. O resto do texto é pra homens e mulheres de verdade, que jogam videogame e querem entender o porquê das coisas.

Em Immortals os deuses gregos perderam seus poderes e as pessoas normais viraram pedra, menos Fenyx, a protagonista, que vai ter que salvar o mundo derrotando o titã responsável por esta maldição.

Com uma arte tendendo para o cartunesco e atmosfera descontraída, você vai explorando a ilha dos deuses enquanto Prometeu narra as suas aventuras como se tivesse contando uma história para Zeus, que reclama bastante e faz algumas intervenções bem humoradas.

Lembrou Bastion, mas nessa parte acredito que Immortals ficou até melhor.

Enfim, mundo aberto: uma ilha gigante dividida em partes aonde você precisa ir fazendo missõezinhas pra ficar mais forte, restaurar o poder dos deuses, vencer o titã e salvar todas as pessoas, que viraram pedra. 

Vou reforçar mais uma vez: o jogo é bom, é bonito e é divertido. Infelizmente ele é prejudicado por uma série de inconsistências de design que ocorrem pela empresa ter uma preocupação maior com monetização do que com a experiência do consumidor ou mesmo com a coesão interna, seja do roteiro ou de outra parte.

Em primeiro lugar, o jogo literalmente não abre antes de se criar uma conta Ubisoft Connect e/ou loggar nela. Isso é demorado e chato, inclusive por ter que digitar usando o controle. E se você precisar criar a conta, vai precisar usar o celular ou um computador para confirmar seu E-mail.

Tudo isso para esperar mais!? Depois de entrar na sua conta Ubisoft Connect, o jogo vai procurar conteúdo adicional online, que consiste em missões extras e uma loja, e te fazer esperar até ele terminar de baixar tudo.

O que torna isso ridículo é que só dá pra fazer as missões depois do prólogo, que dura mais de uma hora, e os itens da loja também só fazem sentido um pouco mais tarde, quando você já está habituado com uma parte maior do jogo. Isso tudo que eu descrevi acontece antes de acessar o menu principal.

E aí, quando você finalmente vai escolher "novo jogo" ou qualquer coisa parecida, a seleção dos menus funciona como se fosse um mouse, só que controlado pelo analógico.

Espera. Incômodo. Espera de novo. Incômodo de novo.

Fora da gameplay em si, tudo cansa: menus do jogo são acessados com um cursor e site da loja apertando pra cima, pra baixo e pros lados no direcional do controle, com você rezando para que o navegador vá direitinho para o link que você quer.

Mas, depois de toda essa enrolação, o jogo começa. A história e a narração divertem, o mapa é enorme e é até estranho quando tem um espaço sem nenhum baú, dungeon ou qualquer outra missão secundária que vai te recompensar com recursos pra deixar você mais forte. Só um detalhe: pra mim, que fique bem claro, pra mim os recursos não fazem sentido dentro da própria história do jogo.

Para explicar, eu gostaria de comparar com Skyrim, que também tem um sistema de batalhas bem ruim. No título da Bethesda a lógica interna faz sentido: os dragões foram extintos e você, por coincidência, nasceu com poderes draconianos. Para desenvolver esse dom é necessário se aventurar em tumbas antigas, do período em que as lagartixas aladas ainda rondavam os céus, para descobrir palavras de uma língua esquecida, que te deixam mais forte.

É ficção, afinal de contas, magia e dragões não existem, mas, de novo, faz sentido dentro do universo do próprio jogo. Dá significado ao ato de sair do caminho da história principal para ficar mais forte. E isso definitivamente não acontece em Fenyx Rising.

No título da Ubisoft você pode juntar de 5 a 7 doces e isso vai fazer a sua barra de vida aumentar. Ou, ainda, resolver quebra-cabeças racha-cuca de 4 peças, decorar melodias que têm entre 3 e 6 notas musicais ou quaisquer outros desafios aleatórios para ganhar moedas de Caronte, o barqueiro que leva as almas para seu descanso eterno. Juntando esse dinheiro, você pode melhorar suas habilidades ou comprar novas.

Não tem a menor lógica interna: você "arruma" um quadro da Afrodite, ganha moedas de Caronte, o barqueiro dos mortos, e agora pode pular mais alto!?

E, na hora de comprar novas habilidades, descobrimos que o jogo tem pelo menos 6 moedas diferentes. Pra mim, essa é uma tática usada em jogos de celular para deixar tudo mais complicado, mais trabalhoso, pra daí fazer as pessoas que já gastaram mais tempo no título pensarem que vale a pena gastar dinheiro.

Temos: cristais de 4 cores para melhorar as armas e armaduras, âmbar das árvores para melhorar poções, moedas de Caronte para comprar e melhorar habilidades, moedas diferentes por fazer missões online e pra mim chega.

Sério, se tiver mais que isso eu não me importo. Só vou jogando e pegando o que aparece porque o jogo é razoavelmente divertido. Eu não quero fazer build de personagem, não quero fechar no hard e não quero melhorar nada específico. Aceito o que for aparecendo no caminho enquanto eu fizer o que der vontade na hora.

Até porque as moedas podem até ter uma lógica interna, mas não é intuitivo como se minotauros derrubassem chifres e grifos derrubassem penas. Então é só ir jogando que uma hora você consegue o que precisa.

E quando gastarmos qualquer um desses dinheiros surge mais uma mecânica de jogos de celular. Toda vez que melhoramos uma arma, atributo ou habilidade, tem uma animação engraçadinha, brilhante e com fogos de artifício. E sim, você VAI ASSISTIR essa animação: não dá pra pular.

Supostamente, isso serve pro seu cérebro liberar serotonina e sentir prazer em gastar dinheiro no jogo, mesmo que seja dinheiro de mentira, pra te acostumar a ter prazer quando comprar alguma coisa. Supostamente.

Também tem mecânicas que servem exclusivamente pra que o jogador fique mais tempo na frente da tela. Missões em que você tem que descobrir uma "senha" na base da tentativa e erro, sem nenhuma dica.

E o último ponto dessa análise: O sistema de batalhas é razoável, responsivo e traz o que está fazendo sucesso nos jogos dos últimos anos. Tem a esquiva/rolamento, que em Immortals é um dash; tem a mecânica de parry (aparar), só que apertando R1+L1 ao invés de um único botão; e tem ataques furtivos.

Também estão disponíveis três armas diferentes: espada, arco e machado, cada uma aplicável a uma situação diferente e, de vez em quando com uso obrigatório. Você têm que usar o machado para bater em inimigos que usam escudo e tem que atirar com o arco em alguns inimigos voadores.

Fora isso, as escolhas estratégicas estão limitadas às que você quiser equipado. Não tem atributos, nem fraquezas.

Pela terceira vez: é um bom jogo. Tem seus defeitos, mas diverte, principalmente quem gosta de releituras da mitologia grega. Só não acho que seja um título que venda consoles ou essencial para a coleção de alguém.

E, para encerrar, vou falar uma coisa que pode estar muito errada: pra quem gosta da Ubisoft, mas quer algum cenário diferente de Assassin's Creed, Immortals Fenyx Rising pode ser o jogo certo.

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